...
Podemos descobrir o espaço interior criando lacunas no fluxo de pensamentos. Sem elas, o pensamento se torna repetitivo, desprovido de inspiração, sem nenhuma centelha criativa - e é assim que ele é para a maioria das pessoas. Não precisamos nos preocupar com a duração dessas lacunas. Alguns segundos bastam. Aos poucos, elas irão aumentar por si mesmas, sem nenhum esforço de nossa parte. Mais importante do que fazer com que sejam longas é cria-las com frequencia para que nossas atividades diárias e nosso fluxo de pensamento sejam entremeados por espaços.
Certa ocasião alguém me mostrou a programação anual de uma grande organização espiritual. Quando a examinei, fiquei impressionado pela rica seleção de seminários e palestras interessantes. A pessoa me perguntou se eu poderia recomendar uma ou duas atividades. "Não sei, não. Todas elas me parecem muito interessantes. Mas eu conheço esta: tome consciencia da sua respiração sempre que puder, toda vez que se lembrar. Faça isso durante um ano e terá uma experiencia transformadora bem mais forte do que a participação em qualquer uma dessas atividades. E é de graça."
Tomar consciencia da respiração faz com que a atenção se afaste do pensamento e produz espaço. É uma maneira de gerar consciencia. Embora a plenitude da consciencia já esteja presente como o não-manifestado, estamos aqui para levar a consciencia a essa dimensão.
Tome consciencia da sua respiração. Observe a sensação do ato de respirar. Sinta o movimento de entrada e saída do ar ocorrendo em seu corpo. Veja como o peito e o abdomen se expandem e se contraem ligeiramente quando você inspira e expira. Basta uma respiração consciente para produir espaço onde antes havia a sucessão initerrupta de pensamentos.
Uma respiração consciente (duas ou três seria ainda melhor) feita muitas vezes ao dia é uma maneira excelente de criar espaços em sua vida. Mesmo que você medite sobre sua respiração por duas horas ou mais, o que é uma prática adotada por algumas pessoas, uma respiração basta para deixa-lo consciente. O resto são lembranças ou expectativas, isto é, pensamentos.
Na verdade, respirar não é algo que façamos, mas algo que testemunhamos. A respiração acontece por si mesma. Ela é produida pela inteligencia inerente ao corpo. Portanto, basta observa-la. Essa atividade não envolve nem tensão nem esforço. Além disso, note a breve suspensão do folego - sobretudo no ponto de parada no fim da expiração - antes de começar a inspirar de novo. Muitas pessoas tem a respiração curta, o que não é natural. Quanto mais tomamos consciencia da respiração, mais sua profundidade se estabelece sozinha.
Como a respiração não tem forma própria, ela tem sido equiparada ao espírito - a Vida sem uma forma específica - desde tempos ancestrais. "O Senhor Deus formou, pois, o homem do barro da terra, e inspirou-lhe nas narinas um sopro de vida; e o homem se tornou um ser vivente." A palavra alemã para respiração - atmen - tem origem no termo sânscrito Atman, que significa o espírito divino que nos habita, ou o Deus interior.
O fato de a respiração não ter forma é uma das razões pelas quais a consciencia da respiração é uma maneira eficaz de criar espaços na nossa vida, de produir consciencia. Ela é um excelente objeto de meditação justamente porque não é um objeto, não tem contorno nem forma. O outro motivo é que a respiração é um dos mais sutis e aparentemente insignificantes fenomenos, a "menor coisa", que, segundo Nietzsche, constitui a "melhor felicidade". Cabe a você decidir se vai ou não praticar a consciencia da respiração como verdadeira meditação formal. No entanto, a meditação formal não substitui o empenho em criar a consciencia do espaço na sua vida cotidiana.
Ao tomarmos conciencia da respiração, nos vemos forçados a nos concentrar no momento presente - o segredo de toda a transformação interior, espiritual. Sempre que nos tornamos conscientes da respiração, estamos absolutamente no presente. Percebemos também que não conseguimos pensar e nos manter conscientes da respiração ao mesmo tempo.
A respiração consciente suspende a atividade mental. No entanto, longe de estarmos em transe ou semidespertos, permanecemos acordados e alerta. Não ficamos abaixo do nível do pensamento, e sim acima dele. E, se observarmos com mais atenção, veremos que essas duas coisas - nosso pleno estado de presença e a interrupção do ensinamento sem a perda da consciencia - são, na verdade a mesma coisa: o surgimento da consciencia do espaço.
(pg. 211 do livro O Despertar de uma Nova Consciencia de Eckhart Tolle - Ed. Sextante)
Sono Adequado
A coisa mais prejudicada no desenvolvimento da civilização humana é o sono. Desde o dia que o homem descobriu a luz artificial, seu sono tornou-se perturbado. E cada vez mais aparelhos começaram a chegar nas mãos do homem, ele começou a sentir que o sono é uma coisa desnecessária, perde-se muito tempo com isso. O tempo que passamos dormindo é um desperdício completo. Assim quanto menos sono tivermos, melhor. Não ocorre as pessoas que o sono tenha algum tipo de contribuição para os processos mais profundos da vida. Acham que o tempo que passamos dormindo é tempo desperdiçado, dessa forma, quanto menos dormir, melhor: quanto mais rapidamente reduzir o tempo de sono, melhor.
Nem mesmo percebemos que a causa por trás de todas as doenças, de todas as desordens que entraram na vida do homem é devido à falta de sono. A pessoa que não pode dormir adequadamente não pode viver adequadamente. O sono não é um desperdício de tempo. Às oito horas de sono não são desperdiçadas; ao invés disso, por causa dessas oito horas, você é capaz de ficar desperto por dezesseis horas. Do contrário, você não seria capaz de permanecer desperto por todo esse tempo.
Durante essas oito horas a energia de vida é acumulada, sua vida fica revitalizada, os centros de seu cérebro e do coração se aquietam e sua vida funciona a partir do centro do umbigo. Por causa dessas oito horas de sono você se tornou novamente um com a natureza e com a existência. Eis como você foi revitalizado.
O sono precisa retornar para a vida do homem. Realmente, não há outra alternativa, não há outro passo, para a saúde psicológica da humanidade, esse sono deve ser feito compulsório por lei pelos próximos cem ou duzentos anos.
É muito importante para um meditador cuidar que ele durma suficiente e adequadamente. E mais uma coisa precisa ser entendida – o sono adequado será diferente para cada um. Ele não será igual porque o corpo tem necessidades que são diferentes para cada um... De acordo com a idade e de muitos outros elementos.
Talvez você possa não estar cônscio de que as mais recentes pesquisas dizem que não pode haver um tempo fixo para cada um despertar. Sempre foi dito que despertar às cinco horas da manhã é bom para todo mundo. Isto é absolutamente errado e anticientífico. Isso não é bom para todos; pode ser bom para algumas pessoas, mas pode ser prejudicial para outras. Dentro das vinte e quatro horas, por cerca de três horas, a temperatura do corpo de cada pessoa baixa. E essas três horas são as horas de sono mais profundo. Se a pessoa for acordada durante essas três horas, todo o dia dessa pessoa estará estragado e toda sua energia ficará perturbada.
Geralmente essas três horas se situam entre duas e cinco horas da manhã. Para a maioria das pessoas essas três horas estão entre duas e cinco horas da manhã, mas não é a mesma coisa para todos. Para algumas pessoas a temperatura do corpo delas permanece baixa até às seis horas, para outras fica baixa até às sete horas. Para algumas, a temperatura delas começa a ficar normal as quatro da manhã. Assim se alguém acorda dentro dessas horas de baixa temperatura, todas as vinte e quatro horas de seu dia serão perturbadas e haverá efeitos prejudiciais. Somente quando a temperatura de uma pessoa começa a chegar a um nível normal é hora dele acordar.
Normalmente está bem para todo mundo acordar com o sol nascente, porque quando o sol se levanta a temperatura de todos começa a subir. Mas essa não é a regra, existem algumas exceções. Para algumas pessoas pode ser necessário dormir um pouco mais depois do nascer do sol, devido a que a temperatura do corpo do indivíduo se eleva em horas diferentes, em um ritmo diferente. Então cada pessoa deve descobrir quantas horas de sono precisa e qual a hora mais saudável para levantar-se, e essa é a regra para essa pessoa... O que quer que as escrituras digam, o que quer que os gurus digam. Não há nenhuma necessidade de dar ouvidos a eles.
Para o sono adequado, quanto mais profundo e mais tempo você for capaz de dormir, melhor. Contudo estou lhe dizendo para dormir, não para permanecer deitado na cama! Deitado na sua cama não é dormir!
Acordar quando você sente que é saudável para você deve ser a regra para você. Geralmente isso acontece junto com o nascer do sol, mas é possível que isso não aconteça a você. Não há necessidade de ficar assustado ou preocupado ou pensar que você é um pecador e de ficar com medo de ir para o inferno. Muitas pessoas que se levantam cedo vão para o inferno, e muitas pessoas que se levantam tarde estão vivendo no céu. Nada disso tem qualquer relação com ser espiritual ou não. Mas o sono adequado certamente tem alguma relação com isso.
Portanto, toda pessoa deve descobrir qual o melhor arranjo para ela. Por três meses, toda pessoa deve fazer experimentos com seu trabalho, com seu sono e com sua dieta, e descobrir qual as regras mais saudáveis, mais pacíficas e mais satisfatórias para ela. E cada um deve criar suas próprias regras. Não existe duas pessoas iguais, desse modo nenhuma regra é sempre aplicável a todos. Quando alguém tenta aplicar uma regra geral, ela tem um efeito ruim. Cada pessoa é um indivíduo. Cada pessoa é única e incomparável. Somente ele é como ele mesmo, não há outra pessoa como ele em nenhum lugar da terra. Assim nenhuma regra pode ser uma regra para ele até que ele descubra quais são as regras adequadas para seu próprio processo de vida.
Osho, Extraído de: The Inner Journey
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Nem mesmo percebemos que a causa por trás de todas as doenças, de todas as desordens que entraram na vida do homem é devido à falta de sono. A pessoa que não pode dormir adequadamente não pode viver adequadamente. O sono não é um desperdício de tempo. Às oito horas de sono não são desperdiçadas; ao invés disso, por causa dessas oito horas, você é capaz de ficar desperto por dezesseis horas. Do contrário, você não seria capaz de permanecer desperto por todo esse tempo.
Durante essas oito horas a energia de vida é acumulada, sua vida fica revitalizada, os centros de seu cérebro e do coração se aquietam e sua vida funciona a partir do centro do umbigo. Por causa dessas oito horas de sono você se tornou novamente um com a natureza e com a existência. Eis como você foi revitalizado.
O sono precisa retornar para a vida do homem. Realmente, não há outra alternativa, não há outro passo, para a saúde psicológica da humanidade, esse sono deve ser feito compulsório por lei pelos próximos cem ou duzentos anos.
É muito importante para um meditador cuidar que ele durma suficiente e adequadamente. E mais uma coisa precisa ser entendida – o sono adequado será diferente para cada um. Ele não será igual porque o corpo tem necessidades que são diferentes para cada um... De acordo com a idade e de muitos outros elementos.
Talvez você possa não estar cônscio de que as mais recentes pesquisas dizem que não pode haver um tempo fixo para cada um despertar. Sempre foi dito que despertar às cinco horas da manhã é bom para todo mundo. Isto é absolutamente errado e anticientífico. Isso não é bom para todos; pode ser bom para algumas pessoas, mas pode ser prejudicial para outras. Dentro das vinte e quatro horas, por cerca de três horas, a temperatura do corpo de cada pessoa baixa. E essas três horas são as horas de sono mais profundo. Se a pessoa for acordada durante essas três horas, todo o dia dessa pessoa estará estragado e toda sua energia ficará perturbada.
Geralmente essas três horas se situam entre duas e cinco horas da manhã. Para a maioria das pessoas essas três horas estão entre duas e cinco horas da manhã, mas não é a mesma coisa para todos. Para algumas pessoas a temperatura do corpo delas permanece baixa até às seis horas, para outras fica baixa até às sete horas. Para algumas, a temperatura delas começa a ficar normal as quatro da manhã. Assim se alguém acorda dentro dessas horas de baixa temperatura, todas as vinte e quatro horas de seu dia serão perturbadas e haverá efeitos prejudiciais. Somente quando a temperatura de uma pessoa começa a chegar a um nível normal é hora dele acordar.
Normalmente está bem para todo mundo acordar com o sol nascente, porque quando o sol se levanta a temperatura de todos começa a subir. Mas essa não é a regra, existem algumas exceções. Para algumas pessoas pode ser necessário dormir um pouco mais depois do nascer do sol, devido a que a temperatura do corpo do indivíduo se eleva em horas diferentes, em um ritmo diferente. Então cada pessoa deve descobrir quantas horas de sono precisa e qual a hora mais saudável para levantar-se, e essa é a regra para essa pessoa... O que quer que as escrituras digam, o que quer que os gurus digam. Não há nenhuma necessidade de dar ouvidos a eles.
Para o sono adequado, quanto mais profundo e mais tempo você for capaz de dormir, melhor. Contudo estou lhe dizendo para dormir, não para permanecer deitado na cama! Deitado na sua cama não é dormir!
Acordar quando você sente que é saudável para você deve ser a regra para você. Geralmente isso acontece junto com o nascer do sol, mas é possível que isso não aconteça a você. Não há necessidade de ficar assustado ou preocupado ou pensar que você é um pecador e de ficar com medo de ir para o inferno. Muitas pessoas que se levantam cedo vão para o inferno, e muitas pessoas que se levantam tarde estão vivendo no céu. Nada disso tem qualquer relação com ser espiritual ou não. Mas o sono adequado certamente tem alguma relação com isso.
Portanto, toda pessoa deve descobrir qual o melhor arranjo para ela. Por três meses, toda pessoa deve fazer experimentos com seu trabalho, com seu sono e com sua dieta, e descobrir qual as regras mais saudáveis, mais pacíficas e mais satisfatórias para ela. E cada um deve criar suas próprias regras. Não existe duas pessoas iguais, desse modo nenhuma regra é sempre aplicável a todos. Quando alguém tenta aplicar uma regra geral, ela tem um efeito ruim. Cada pessoa é um indivíduo. Cada pessoa é única e incomparável. Somente ele é como ele mesmo, não há outra pessoa como ele em nenhum lugar da terra. Assim nenhuma regra pode ser uma regra para ele até que ele descubra quais são as regras adequadas para seu próprio processo de vida.
Osho, Extraído de: The Inner Journey
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Ursula Jahara
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Do mundo virtual ao espiritual

Frei Betto
Ao viajar pelo Oriente, mantive contatos com monges do Tibete, da Mongólia, do Japão e da China. Eram homens serenos, comedidos,recolhidos em paz em seus mantos cor de açafrão.
Outro dia, observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia de executivos com telefones celulares, preocupados,ansiosos, geralmente comendo mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café-da-manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, todos comiam vorazmente. Aquilo me fez refletir: “Qual dos dois modelos produz felicidade?”
Encontrei Daniela, de 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei: “Não foi à aula?” Ela respondeu: “Não, tenho aula à tarde”. Comemorei: “Que bom, então de manhã você pode brincar, dormir até mais tarde”. “Não”, retrucou ela, “tenho tanta coisa de manhã...” “Que tanta coisa?”, perguntei. “Aulas de inglês, de balé, de pintura, piscina”, e começou a elencar seu programa de garota robotizada. Fiquei pensando: “Que pena, a Daniela não disse: ‘Tenho aula de meditação!’”
Estamos construindo super-homens e supermulheres, totalmente equipados, mas emocionalmente infantilizados. Por isso as empresas consideram agora que, mais importante que o QI, é a IE, a inteligência emocional. Não adianta ser um superexecutivo se não se consegue se relacionar com as pessoas. Ora, como seria importante os currículos escolares incluírem aulas de meditação!
Uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem 60 academias de ginástica e três livrarias! Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito. Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: “Como estava o defunto?”. “Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!” Mas como fica a questão
da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa?
Outrora, falava-se em realidade: análise da realidade, inserir-se na realidade, conhecer a realidade. Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual. Pode-se fazer sexo virtual pela internet: não se pega Aids, não há envolvimento emocional, controla-se no mouse. Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação de conhecer o seu vizinho de prédio ou de quadra! Tudo é virtual, entramos na virtualidade de todos os valores, não há compromisso com o real! É muito grave esse processo de abstração da linguagem, de sentimentos: somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais.
Enquanto isso, a realidade vai por outro lado, pois somos também eticamente virtuais…
A cultura começa onde a natureza termina. Cultura é o refinamento do espírito.
Televisão, no Brasil – com raras e honrosas exceções –, é um problema: a cada semana que passa, temos a sensação de que ficamos um pouco menos cultos. A palavra hoje é entretenimento; domingo, então, é o dia nacional da imbecilização coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela. Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: "Se tomar este refrigerante, calçar este tênis, usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá!” O problema é que, em geral, não se chega! Quem cede desenvolve de tal maneira o desejo, que acaba precisando de um analista. Ou de remédios. Quem resiste aumenta a neurose.
Os psicanalistas tentam descobrir o que fazer com o desejo dos seus pacientes. Colocá-los onde? Eu, que não sou da área, posso me dar o direito de apresentar uma sugestão. Acho que só há uma saída: virar o desejo para dentro. Porque, para fora, ele não tem aonde ir! O grande desafio é virar o desejo para dentro, gostar de si mesmo, começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento
globalizante, neoliberal, consumista. Assim, pode-se viver melhor. Aliás, para uma boa saúde mental, três requisitos são indispensáveis: amizades, auto-estima, falta de estresse.
Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Se alguém vai à Europa e visita uma pequena cidade onde há uma catedral, deve procurar saber a história daquela cidade – a catedral é o sinal de que ela tem história. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um shopping center. É curioso: a maioria dos shopping centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingo. E ali dentro se sente uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas...
Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Se deve passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno... Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer do McDonald’s…
Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: “Estou apenas fazendo um passeio socrático.” Diante de seus olhares espantados, explico: “Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça
percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia: ‘Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz.’”
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Frei Betto é escritor, autor, em parceria com Luis Fernando Veríssimo e outros, de O desafio ético (Garamond), entre outros livros.
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Ursula Jahara
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Krishna Das' Workshop - 2 / Dezembro / 2007
Nesse último Domingo tive a oportunidade de participar do Workshop do Krishna Das em Los Angeles, California.
Aqui compartilho apenas 20 minutos do workshop que teve duração de 3hs.
Energia contagiante, amor total, simplicidade, massagem na alma...
Aqui compartilho apenas 20 minutos do workshop que teve duração de 3hs.
Energia contagiante, amor total, simplicidade, massagem na alma...
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Ursula Jahara
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NORMOSE.... Texto de Martha Medeiros
texto da escritora Martha Medeiros:
Normose
Lendo uma entrevista do professor Hermógenes, 86 anos, considerado o fundador da ioga no Brasil, ouvi uma palavra inventada por ele que me pareceu muito procedente: ele disse que o ser humano está sofrendo de normose, a doença de ser normal. Todo mundo quer se encaixar num padrão. Só que o padrão propagado não é exatamente fácil de alcançar. O sujeito "normal" é magro, alegre, belo, sociável, e bem-sucedido. Quem não se "normaliza" acaba adoecendo. A angústia de não ser o que os outros esperam de nós gera bulimias, depressões, síndromes do pânico e outras manifestações de não enquadramento. A pergunta a ser feita é: quem espera o que de nós? Quem são esses ditadores de comportamento a quem estamos outorgando tanto poder sobre nossas vidas?
Eles não existem. Nenhum João, Zé ou Ana bate à sua porta exigindo que você seja assim ou assado. Quem nos exige é uma coletividade abstrata que ganha "presença" através de modelos de comportamento amplamente divulgados. Só que não existe lei que obrigue você a ser do mesmo jeito que todos, seja lá quem for todos. Melhor se preocupar em ser você mesmo.
A normose não é brincadeira. Ela estimula a inveja, a auto-depreciação e a ânsia de querer o que não se precisa. Você precisa de quantos pares de sapato? Comparecer em quantas festas por mês? Pesar quantos quilos até o verão chegar?
Não é necessário fazer curso de nada para aprender a se desapegar de exigências fictícias. Um pouco de auto-estim abasta. Pense nas pessoas que você mais admira: não são as que seguem todas as regras bovinamente, e sim aquelas que desenvolveram personalidade própria e arcaram com os riscos de viver uma vida a seu modo. Criaram o seu "normal" e jogaram fora a fórmula, não patentearam, não passaram adiante. O normal de cada um tem que ser original. Não adianta querer tomar para si as ilusões e desejos dos outros. É fraude. E uma vida fraudulenta faz sofrer demais.
Eu não sou filiada, seguidora, fiel, ou discípula de nenhuma religião ou crença, mas simpatizo cada vez mais com quem nos ajuda a remover obstáculos mentais e emocionais, e a viver de forma mais íntegra, simples e sincera. Por isso divulgo o alerta: a normose está doutrinando erradamente muitos homens e mulheres que poderiam, se quisessem, ser bem mais autênticos e felizes.
Martha Medeiros - escritora
Normose
Lendo uma entrevista do professor Hermógenes, 86 anos, considerado o fundador da ioga no Brasil, ouvi uma palavra inventada por ele que me pareceu muito procedente: ele disse que o ser humano está sofrendo de normose, a doença de ser normal. Todo mundo quer se encaixar num padrão. Só que o padrão propagado não é exatamente fácil de alcançar. O sujeito "normal" é magro, alegre, belo, sociável, e bem-sucedido. Quem não se "normaliza" acaba adoecendo. A angústia de não ser o que os outros esperam de nós gera bulimias, depressões, síndromes do pânico e outras manifestações de não enquadramento. A pergunta a ser feita é: quem espera o que de nós? Quem são esses ditadores de comportamento a quem estamos outorgando tanto poder sobre nossas vidas?
Eles não existem. Nenhum João, Zé ou Ana bate à sua porta exigindo que você seja assim ou assado. Quem nos exige é uma coletividade abstrata que ganha "presença" através de modelos de comportamento amplamente divulgados. Só que não existe lei que obrigue você a ser do mesmo jeito que todos, seja lá quem for todos. Melhor se preocupar em ser você mesmo.
A normose não é brincadeira. Ela estimula a inveja, a auto-depreciação e a ânsia de querer o que não se precisa. Você precisa de quantos pares de sapato? Comparecer em quantas festas por mês? Pesar quantos quilos até o verão chegar?
Não é necessário fazer curso de nada para aprender a se desapegar de exigências fictícias. Um pouco de auto-estim abasta. Pense nas pessoas que você mais admira: não são as que seguem todas as regras bovinamente, e sim aquelas que desenvolveram personalidade própria e arcaram com os riscos de viver uma vida a seu modo. Criaram o seu "normal" e jogaram fora a fórmula, não patentearam, não passaram adiante. O normal de cada um tem que ser original. Não adianta querer tomar para si as ilusões e desejos dos outros. É fraude. E uma vida fraudulenta faz sofrer demais.
Eu não sou filiada, seguidora, fiel, ou discípula de nenhuma religião ou crença, mas simpatizo cada vez mais com quem nos ajuda a remover obstáculos mentais e emocionais, e a viver de forma mais íntegra, simples e sincera. Por isso divulgo o alerta: a normose está doutrinando erradamente muitos homens e mulheres que poderiam, se quisessem, ser bem mais autênticos e felizes.
Martha Medeiros - escritora
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